terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Dark Pages - Ana, Parte II

(Imagem por Giovanni Zanelato)


– O que aconteceu? – ela tentou ser ouvida entre os gritos das crianças.

– Ele estava jogando basquete e de repente caiu, está quente! – o professor de ginástica era um personal trainer que estava gordinho demais para conseguir um emprego em uma academia e fora obrigado a se contentar com o cargo na escola que seu primo lhe arranjara. – Ele não está com nenhuma luxação e continua respirando, parece ser apenas febre...

Ana tentava prestar atenção ao que o homem falava, mas apenas conseguia ouvir um apito bem suave e agudo.

Acalmar as crianças no dia seguinte não foi uma tarefa fácil, principalmente as meninas que estavam o tempo todo pedindo para que Ana checasse a temperatura. No recreio, poucos saíram da sala e ninguém comeu depois que um dos garotos do quinto ano espalhara o boato de que o aluno passara mal porque a carne dos lanches era de rato.

Ana reparava nas crianças fofocando entre si e percebeu que Pedro estava sozinho no fundo da sala, novamente alheio a tudo. Ao perceber que estava sendo observado o menino sorriu para a professora. Ana sorriu de volta, mas parou assim que começou a ouvir novamente o apito agudo. Se o problema persistir, pensou Ana, teria que procurar um médico.

Apesar de toda a situação, a manhã estava correndo tranquilamente. Ana resolveu entregar os alunos aos pais, desceu as escadas com as crianças. Como em toda escola infantil, os pais se amontoavam no portão, um empurrando o outro para ter o melhor lugar, como se quem chegasse primeiro pudesse levar para casa a melhor criança. No fundo, Ana viu a mãe de Pedro, achou que seria simpático acompanhar o garotinho.

Sorrindo, segurou a mãozinha dele e seguiu desviando de alguns pais curiosos sobre o incidente do dia anterior. Pedro apenas olhava diretamente para frente.

A mulher estava fora do carro, um modelo novo com os vidros tão escuros que mal se via o vulto do motorista.

– Que dia lindo, não? – Ana tentou iniciar uma conversa com a mãe do garoto. – Eu acho que o nosso mocinho aqui vai poder brincar bastante, não parece que vai chover – a mulher apenas sorriu e puxou o menino.

Depois de abrir a porta de trás do carro, a mulher entrou e o motorista partiu, deixando Ana sozinha novamente e com o ouvido zunindo.

Quinta-feira era dia de Artes, o que significava mais alguns trabalhos para o mural da classe, mais manchas de tinta nas carteiras e um motivo a mais para as crianças não importunarem a professora. Ana estava sentada no fundo da classe, lendo um romance quando percebeu que as crianças estavam correndo para a porta. As crianças das outras salas gritavam e Ana pode entender que alguém tinha caído da escada.

Deixou o seu livro de lado e tentou colocar as crianças para dentro da sala, mas não conseguiu. Correu escada abaixo e no início do segundo lance de escadas pode ver a menina caída no chão, o corpo estava gelado e a menina tremia. Ana tentou levantar a menina do chão e percebeu que seus cabelos estavam sujos de tinta amarela. Olhou para a escada e encontrou Pedro, com os olhos arregalados. Ana deixou a menina aos cuidados dos outros professores que chegaram foi acalmar Pedro e os outros alunos.

Já era o segundo desmaio em menos de uma semana.

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