quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Dark Pages - Fofinho Renascido



Lila saiu em disparada mostrar para a irmã o presente que havia ganhado do avô. Foi, claro, amor a primeira vista. Lila adorava cavalos e ganhar um cavalo de pelúcia foi maravilhoso. Um cavalo que poderia a acompanhar até no sono. Mas em pouco tempo se descobriu que não era um cavalo e sim uma girafa. Mas isso em nada desmereceu o carinho que Lila tinha por ele.

E os dias se passaram e o apreço que Lila sentia por sua girafa de pelúcia – batizado de Fofinho – não tinha fim, era feliz ao lado dele e sempre ficavam juntos o dia inteiro.

O brinquedo participava de todas as brincadeiras, e com o tempo Fofinho ficava tão sujo que dava pena, mas Lila levava o Fofinho para a casa da avó e lá ele tinha o tratamento que merecia. Um bom banho e estava pronto para novas brincadeiras.

Com o tempo, que passa para todos inclusive para os brinquedos, Fofinho foi envelhecendo e suas costuras já não aguentavam mais manter suas partes unidas. Isso entristeceu Lila que começou a levar Fofinho para a casa da avó com mais frequência, e ela sempre disposta a dar vida nova à girafa de pelúcia costurava todas as partes onde as linhas se soltaram.

E as costuras para reviver Fofinho não paravam, cada vez com intervalos menores. Mas houve um incidente em que tudo se perdeu. Lindinha, uma cadela sem raça que pertencia a Lila, em um acesso de ciúmes canino, pegou o Fofinho e o estraçalhou com uma fúria monstruosa. Não dava mais para reconhecer Fofinho naquele amontoado, todo mutilado, com seus enchimentos espalhados por todo canto. Uma cena horrível de se ver, mesmo para um brinquedo.

Aquilo representaria o fim para Fofinho, mas não foi isso o que aconteceu. Lila guardou os restos e de vagar foi remendando ela mesma o que conseguia. Foram muitos dias lutando para devolver a vida ao brinquedo preferido. Mas mesmo com a árdua luta contra toda a crueldade a que sofreu, Fofinho nunca seria o mesmo, muita coisa mudou em seu corpo. Suas pernas ficaram tortas, os braços não poderiam mais ter a mesma simetria. Sua cabeça outrora com olhos alegres e semblante feliz, exibia agora um olhar sinistro e seu sorriso era incômodo.

Lila não se importava com a aparência de seu brinquedo amado, ela ainda tinha muito carinho para dar a ele, e faria de tudo para que ainda permanecesse mais algum tempo ao seu lado.

Mas ainda faltava algo, Fofinho já não fazia jus ao nome, afinal com o ataque da cadela Lindinha, o enchimento da girafa tinha sido espalhado aos quatro ventos e mesmo que Lila tivesse salvado o que pode, ainda não era – nem de longe – o suficiente para que Fofinho voltasse a ter aquele abraço aconchegante de antes.

Lila queria que tudo voltasse ao normal, pelo menos tão normal quanto possível. E foi assim que ela cometeu a maior crueldade que se pode fazer com os bichos de pelúcia.

Ela pensou: “Vou pegar um bicho que eu não gosto muito e tirar todo o enchimento dele e colocar dentro do Fofinho, aí ele volta a ser tão fofinho e gostoso de abraçar como antes”.

Pobre menina. Foi exatamente isso que aconteceu. Um ursinho, já bem velho também, mas ainda bem gordinho foi a vítima escolhida. Lila com uma tesoura abriu a barriga do urso e começou a retirar tudo de dentro. Aquilo não era uma cena a qual uma criança deveria ver, ainda mais fazer, pois mesmo o estripamento de um brinquedo pode ser chocante.

E Lila foi até o fim, retirou tudo. Não deixou nada para trás.

Devagar, com Fofinho deitado sobre sua cama, Lila foi empurrando para dentro da girafa pequenos tufos de enchimento. Já era noite e somente uma fresta de luz vinda da rua entrava pela janela do quarto com alguns lampejos mais fortes dos faróis dos carros que passavam de vez em quando pela rua.

Lila continuou sua tarefa em movimentos cadenciados e monótonos quase como se em transe. Alguns minutos depois seu trabalho estava concluído. Fofinho estava renovado com seu novo enchimento roubado de outro brinquedo.Ao ver que já tinha terminado, Lila se levantou da cama para pegar agulha e linha para o arremate final e não percebeu que quando se virou de costas a cabeça de Fofinho virou-se também e um sorriso frio e maléfico se formava em sua boca feita de lã.

Nenhum comentário: